O cinema em 2017
Entrevistas SIC Notícias
31.12.2017 16h36
Prestes a despedirmo-nos de 2017 é altura de balanço. Aproveitámos para falar dos filmes que se destacaram nas salas de cinema. Quais foram as supresas, as desilusões e as grandes interpretações do ano que agora termina? Um jovem realizador e um crítico de cinema dizem de sua justiça.

À semelhança do que é costume, o ano começou com a exibição de alguns filmes que estrearam no circuito norte-americano no final de 2016. "La La Land: Melodia de Amor" (o quase vencedor do Óscar de Melhor Filme) e "Vedações" (Fences no versão original do título) são alguns exemplos.
O TOP 3
Nas idas ao cinema há sempre filmes que nos marcam mais do que outros, quer seja pela história, pela imagem, pela música ou pelas interpretações, assim sendo desafiámos os nossos entrevistados a nomear os três filmes que mais os marcaram ao longo de 2017.

Diogo Simão - Realizador
"Fui mais vezes ao cinema este ano do que nos últimos três ou quatro anos, portanto foi bom ver muita coisa boa e foi mau ver muita coisa péssima. A sequela do Blade Runner, "Blade Runner - 2049" é um exemplo do que a indústria de Hollywood pode fazer quando uma boa propriedade é colocada nas mãos de um realizador competente. Destaco também o "La La Land" (já tinha estreado nos Estados Unidos em 2016, mas só chegou a Portugal em 2017) e o "Baby Driver", o Edgar Wright é um realizador soberbo, muito inteligente, consegue fazer comédia não só com a escrita e com os atores, mas também com a própria câmara."

João Lopes - Crítico de Cinema
"Como reflexo do bom cinema que pudemos ver ao longo de 2017, escolho três títulos: "Detroit", de Kathryn Bigelow, uma extraordinária evocação dos motins que abalaram a cidade de Detroit em 1967 (com John Boyega a mostrar o seu talento muito para além da sua personagem em "Star Wars"), "Silêncio", o filme que Martin Scorsese pensou e desejou ao longo de duas décadas, uma reflexão impressionante sobre a fé e as fronteiras do ser humano e "Jackie", evocação vibrante e comovente de Jacqueline Kennedy com uma interpretação fora-de-série de Natalie Portman; curiosamente, sendo um filme ligado a temas e fantasmas da história dos EUA, trata-se de uma realização de Pablo Larraín, notável cineasta do Chile."
Dunkirk

Fionn Whitehead em "Dunkirk"
Melinda Sue Gordon
"Entrega ao espectador a melhor experiência possível dentro daquilo que está a tentar demostrar, que é a Segunda Guerra Mundial."
Em pleno verão chegou aos cinemas a mais recente obra de Christopher Nolan (responsável pela adaptação da trilogia "Batman", "Inception" e "Interstellar"). A superprodução ao estilo de Hollywood trouxe uma perspectiva diferente dos filmes de guerra. Para o jovem realizador de cinema, Diogo Simão, o filme "entrega ao espectador a melhor experiência possível dentro daquilo que está a tentar demostrar, que é a segunda guerra mundial.".
Nolan, que é simultâneamente visto como visionário e conservador, "apostou as fichas" em filmagens no antigo formato do 70mm e evitou o 3D, no entanto brindou os espectadores com um experiência IMAX única. " A fórmula resulta, porque o Nolan tem uma visão muito própria do que é que um filme deve ser, ele gravou o filme com câmaras enormes para o poder gravar em película e IMAX ao mesmo tempo, que é uma coisa completamente absurda, o filme em IMAX é uma experiência megalómana, e é por vezes por causa desses riscos que os realizadores tomam, que se destacam nos prémios, e acho que nesse caso é isso.", diz Diogo.
Quem já tinha determinadas expetativas em relação ao que a história poderia ser, podem ter sido um pouco goradas, mas este não deixa de ser um filme que marca, sobretudo pela experiência visual e sonora.
Blade Runner: 2049

Ryan Gosling em "Blade Runner:2049"
IMDB
" "Blade Runner: 2049" foi, por certo, um dos grandes acontecimentos do ano."
Os filmes do grande circuito comercial ou "blockbusters" continuam na linha da frente no impacto que têm nos espectadores, caso disso é o episódio mais recente de Balde Runner. Para Diogo Simão, é mesmo o melhor do filme do ano. Já João Lopes, crítico de cinema da SIC, garante que "não se pode comparar o impacto de um filme que estreia em duas ou três salas com outro que, na sua semana de lançamento, ocupa 90 ou 100 ecrãs, quer dizer, quase 20% de todo o mercado. Não estão em causa os "blockbusters", uns magníficos, outros medíocres". João Lopes não tira, no entanto, o mérito ao filme: "Blade Runner 2049" foi, por certo, um dos grandes acontecimentos do ano.".
Diogo garante que "Blade Runner 2049" é dos poucos filmes desta década que tem o condão de afundar quem o vê num vasto e credível mundo que não é o seu e, ainda assim, explorar uma imensidão de questões que dizem respeito a cada ser humano. É arte feita para as massas!".
Judi Dench

Judi Dench em "Victoria & Abdul"
IMDB
"A Judi Dench é uma senhora que raramente faz de Judi Dench."
A prova de que a idade só melhora as coisas parece ser Judi Dench. A atriz britânica esteve em força em 2017. Deu vida à rainha Victoria em "Victoria & Abdul" e a uma princesa na adaptação do clássico de Agatha Christie, "Um Crime no Expresso do Oriente".
Alguns dos críticos mais azedos levantaram-se para dizer que era só a Judi Dench a fazer de Judi Dench. Ora, há quem seja peremptório e discorde.
"A Judi Dench é uma senhora que raramente faz de Judi Dench. Gosto muito da Judi Dench, aliás acho que ela foi uma das melhores partes do "Um Crime no Expresso do Oriente", do Kenneth Branagh", confessa Diogo Simão.
Um Crime no Expresso do Oriente

Kenneth Branagh em "Um Crime o Expresso do Oriente"
IMDB
"Não é um mau filme, digamos que é um filme de domingo à tarde."
As adaptações de livros para o grande ecrã não são novidade e prometem continuar. Este ano parece ter sido o ano de Agatha Christie, primeiro com "Um Crime no Expresso do Oriente" e depois com "A Casa Torta" ( Crooked House na versão original).
A história de "Um Crime no Expresso do Oriente" não é novidade para quase ninguém, não tivesse a obra sido adptada diversas vezes quer para cinema, quer para televisão. Aquilo que começa por ser uma requintada viagem de comboio pela Europa, torna-se num dos grandes mistérios alguma vez contado.
"O "Crime no Expresso do Oriente" é definitivamente mais estilo visual do que propriamente cuidado com as personagens.", é assim que Diogo Simão começa por descrever o filme realizado por Kenneth Branagh.
À partida, o filme teria tudo para dar certo, afinal tem um elenco de luxo não é?
"Exatamente, e por já ser um elenco de luxo, em que cada uma das personagens, ou a maior parte delas, cada um dos atores fez um papel com o qual já está conotado, o Johnny Depp fez do tipo que é meio extrovertido, a Michelle Pfeiffer fez de "femme fatal", a Judi Dench, lá está, fez de aristocrata, e acaba por não haver grande desenvolvimento das personagens porque tu já sabes com o quê que os atores estão conotados."
Mas apesar de tudo isto será que podemos considerá-lo um bom filme? Falta alguma coisa?
Diogo é peremptório: "Não é um mau filme, digamos que é um filme de domingo à tarde. Foi passado muito pouco tempo com cada uma das personagens e chegou-se ao final e não houve grande desenlace. Literalmente a personagem do Poirot, que foi interpretada pelo próprio Branagh virou-se para a câmara e disse aquilo que o filme era suposto fazer-nos sentir. Não é necessário. Quando o filme é bem feito, não é necessário uma personagem dizer aquilo que devemos sentir."
Uma produção Sul-Coreana

IMDB
"Digamos que é um triller erótico muito bem realizado."
"Há um filme com uma componente histórica muito interessante, que tem sido pouco falado, se calhar só falado pelo público de cinema mais "underground". É um filme sul-coreano chamado "The Handmaiden" ("A Criada" na tradução portuguesa) que esteve nomeado para a Palma de Ouro, em Cannes, o filme é passado na Coreia ocupada pelo Japão, mas foi adaptado curiosamente de um romance escrito na altura da Inglaterra Vitoriana. Digamos que é um triller erótico, muito bem realizado pelo realizador que eu não sei dizer o nome, lamento (risos) (Chan-wook Park). É uma história extremamente interessante, que conta muito sobre a época, sobre a Coreia do Sul, mas sempre com um humor-negro bastante interesssante. É uma história que está sempre em convulsões e a mostrar-nos coisas diferentes sobre o que pensávamos estar a acontecer, mas na verdade não está.".
Este é o destaque pessoal de Diogo Simão. Trata-se de um filme com uma estética e uma narrativa fora do normal. Em poucos minutos, são apresentados vários personagens, com passados e motivações distintas. O suspense está sempre presente e para quem gosta de fugir do habitual cinema comercial é uma sugestão a anotar.
Interpretações

Jennifer Lawrence em "Mãe!"
IMDB
"Jennifer Lawrence em "Mãe!", sustentando uma perturbante carga dramática."
"Gosto de dizer que os melhores efeitos especiais são os atores — a evolução tecnológica permite, por vezes, fabricar imagens surpreendentes, mas nada substitui a verdade de um corpo vivo a representar. Entre as estreias do ano, destaco as performances de Jennifer Lawrence em "Mãe!", de Darren Aronovsky, e Steve Carell em "Derradeira Viagem", de Richard Linklater: ela sustentando uma perturbante carga dramática; ele mostrando que possui qualidades invulgares para além do registo cómico que lhe deu fama.", diz João Lopes.

Steve Carell em "Derradeira Viagem"
IMDB
"Steve Carell em "Derradeira Viagem" possui qualidades invulgares para além do registo cómico que lhe deu fama."
Diogo prefere não destacar performances, mas deixa um desejo: "há pelo menos um ou dois filmes que conseguem escolher uma atriz fora da caixa. Eu gostava de ver isso um pouco mais traduzido para os Globos de Ouro e para os Óscares. Ah e esperemos que o Gary Oldman seja nomeado para o Óscar (pelo seu trabalho em "A Hora Mais Negra"), porque Deus sabe que o homem já merece há uns quantos anos!"
Cinema Português

"Peregrinação" de João Botelho
Não poderíamos fechar este balanço sem falar do que se faz cá dentro. A produção nacional continua a ter as falhas do costume, sendo que a falta de apoios e financiamento são as mais gritantes. Quem trabalha no setor garante em Portugal se continua a fazer cinema por "pura teimosia".
João Lopes diz que "para além dos filmes portugueses serem melhores ou piores (como, aliás, acontece em qualquer cinematografia), importa realçar a regularidade da sua presença nas salas escuras — esse é um dado importante, no sentido de consolidar formas de consumo da própria produção nacional. Em termos pessoais, direi que os que mais me interessaram foram "Peregrinação", de João Botelho, e "A Fábrica de Nada", de Pedro Pinho."
A verdade é que o público português vai às salas de cinema ver mais cinema estrangeiro do que nacional. Diogo Simão tem uma opinião bastante concreta sobre a matéria: "O público português ainda tem um pouco de medo do seu próprio cinema, tem medo de ir ver coisas novas, porque poderá ser aborrecido ou de não valer a pena. As pessoas têm de perceber que o cinema português é feito com o público português, nenhum realizador faz um filme que não tenha Portugal na corrente sanguínea."
Quanto aos destaques vão para "Al Berto", de Vicente Alves do Ó, e "Verão Danado", de Pedro Cabeleira. Para o jovem realizador trata-se de uma "demostração daquilo que se pode fazer com poucos meios, muita vontade e uma visão incrível."
Para quem lê estas palavras pode até não considerar que estes sejam os melhores filmes do ano, mas pelo menos são alguns dos que marcaram a sétima arte em 2017. E como gostos não se discutem, que 2018 seja preenchido de idas ao cinema para ver o que cada um considere interessante e estimulante para o seu intelecto.
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