Xanana Gusmão acusa Austrália e comissão da ONU de conluio com petrolíferas

Kandhi Barnez / AP
06.03.2018 10h58
O ex-Presidente timorense Xanana Gusmão acusou a Austrália e uma comissão de conciliação da ONU de "conluio" com empresas petrolíferas para tentar que um gasoduto dos campos petrolíferos de Greater Sunrise siga para Darwin, segundo a rádio australiana ABC.
Numa carta obtida pela ABC e divulgada hoje, Xanana Gusmão - negociador principal das fronteiras com a Austrália - refere-se a uma suposta oferta pela Austrália de um gasoduto de 100 milhões de dólares se Timor-Leste aceitasse a opção do gasoduto para Darwin em vez de para a costa sul de Timor-Leste, como Díli tem defendido.
"A sociedade civil dos dois países poderia ver isto como uma forma de conluio do Governo australiano e dos parceiros do gasoduto de Darwin com a 'joint venture' do Greater Sunrise, com o apoio da Comissão para conseguir o gasoduto do Sunrise para Darwin", refere um excerto da carta lida hoje no programa PM, da rádio ABC.
"E ainda pior, estas ofertas poderiam ser vistas por organizações de transparência internacional como uma forma de suborno ao Governo de Timor, porque parece um pagamento não justificado para conseguir uma vantagem empresarial injusta e inaceitável", sublinha a carta.
A ABC não divulgou a data da carta, explicando que está endereçada à Comissão de Conciliação, tendo o jornalista divulgado vários excertos através da rede Twitter.
A divulgação da carta surge horas antes de Timor-Leste e a Austrália assinarem em Nova Iorque o tratado histórico que delimitará as fronteiras entre os dois países, do qual faz parte um acordo sobre a partilha de recursos para o desenvolvimento dos poços de Greater Sunrise.
Xanana Gusmão, que à última hora cancelou a sua esperada participação na cerimónia de Nova Iorque, liderou as negociações com a Austrália, que decorreram no âmbito de uma Comissão de Conciliação da ONU e das quais resultou o novo tratado.
Entre os excertos da carta divulgados pela ABC, Xanana Gusmão acusa a comissão de falta de imparcialidade, de ter ido além do seu mandato ao apresentar "recomendações formais" sobre o desenvolvimento do Greater Sunrise e de ter uma "uma generosidade fora do comum por se permitir pensar em nome do povo de Timor-Leste".
O líder timorense considera que a comissão foi "superficial de forma chocante" na sua avaliação dos benefícios do gasoduto para Timor-Leste e acusa a Austrália de ter "ativamente apoiado" o gasoduto para Darwin em nome da empresa líder da 'joint venture', a petrolífera Woodside.
No que toca à divisão das receitas, a carta diz que Timor-Leste está preparada para dar 10% das receitas do Greater Sunrise.
O tratado vai ser assinado às 17:00 de hoje (hora local em Nova Iorque, 22:00 em Lisboa e 07:00 de quarta-feira em Díli) pelo atual ministro Adjunto do primeiro-ministro timorense para a Delimitação de Fronteiras, Agio Pereira, e pela ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Julie Bishop.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente da Comissão de Conciliação, Peter Taksøe-Jensen, que mediou as negociações entre os dois países, testemunham a assinatura.
Agio Pereira foi o número dois da equipa negocial liderada por Xanana Gusmão.
Lusa
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